domingo, 8 de março de 2009

Saudade

Parece absurdo pensar nisso, mas será que sabemos o quanto de nós é, realmente, nosso? Nosso jeito de andar, de vestir, o idioma ou idiomas pelos quais nos expressamos, nossos gostos musicais, nossos gostos estéticos, os sabores que agradam nosso paladar... o que sabemos fazer, o que não sabemos mas queremos aprender e aquilo de que nós queremos distanciamento. O quanto disso tudo é nosso e o quanto é do mundo?

Assuntos como política externa, proteção aos direitos humanos e ao meio ambiente, a preservação da baleia branca, Internet, saúde, educação, enfim, assuntos de cunho social, político, econômico ou cultural que, num primeiro momento parecem locais, próximos, se apresentam como problemas internacionais. Mas não um “internacional” alheio a mim ou a você que tirou cinco minutos para ler este blog, mas um “internacional” meu e seu, do outro... do mundo.

O quanto de nós, então, é realmente nosso? Hoje, ou melhor, neste exato momento tomo a liberdade em dizer que o que é realmente meu é o que agora me aflige. O que é realmente meu, o que é realmente seu e o que é de cada um são os assuntos ligados ao coração. Ainda que haja alguém a dizer o contrário, a dizer que até mesmo o que nos aflige é em decorrência do contato com o outro, hoje, exatamente hoje o que é realmente meu é o que tenho sentido, o que tem me deixado sem chão, alçado ... o que tem me perturbado o dia.

Sei que muito de mim é pela experiência acumulada pelo contato com outras pessoas ou com suas obras: um livro, um CD, um objeto qualquer que nos despertam sentimentos, estimulam o aprendizado e curiosidades. Mas neste exato momento o que é meu é a saudade.

Há dias em que bate a saudade de um amigo, do pai que já se foi, dos familiares que estão longe. Saudade da infância que ficou, daquela esquina e das conversas até de madrugada. Saudade do futebol noturno, dos almoços em dia de domingo com a casa cheia sem a ausência dos que importam, saudade das brincadeiras de criança, da piada em sala de aula ou daquele sorvete feito pelas mãos de mãe e que já não se encontra mais o sabor. Mas hoje a saudade que bateu, ou melhor, gritou é a saudade da pessoa amada.

Num domingo, oito de março em que ainda se discute crise econômica, se comemora o dia internacional da mulher, se debate a excomunhão de familiares de uma criança estuprada, se fala de meninas de 9, 10 e 11 anos grávidas de padrastos, do gol histórico do Ronaldo após 14 meses sem jogar, ou qualquer outra coisa que é mais ou menos interessante ao mundo estou eu sentado a pensar e sentir uma saudade que dói.

Saudade daquele sorriso que só eu sei o quanto me agrada e que tento a todo custo fazer aparecer. Saudade da pele, do cheiro, do jeito de andar. Saudade daquela voz calma num misto de veludo e aconchego. Saudade do abraço, das mãos dadas e do passeio em tardes de domingo. É saudade da presença e de tudo que ela proporciona.

É uma saudade que faz tudo desanimar, menos a esperança de ver quem se ama. É uma saudade que deixa triste, que me faz terminar aqui pelas metades este texto. Texto que foi escrito para falar que essa saudade, esse sentimento e esses pensamentos são meus, só meus, tão meus que resolvi compartilhar. Compartilhar para torná-los mais meus ainda.

2 comentários:

Rene Serafim - "Juninho" disse...

Gostei do texto. Abração...

cometaurbano disse...

Arley, tudo bem? Seus textos estão muito bem escritos. Um abração do PH