quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Não há métrica

A esperança vem prelúdio da derrota

na expectativa da vitória

que não se concretiza.

Cair de bruços, amargurado,

perdido...é rotina.

Perde-se o sorriso,

esvai-se as forças,

acha-se incapaz.

Pede um abraço,

procura o erro,

inventa um culpado.

Abraça a rotina

na desventura de tentar.

Mas tenta e sempre

espera:

a vitória que ainda não veio,

a comunhão entre êxtase e sorriso...

demorada.

Tenta porque é o que lhe resta.

Além da revolta e do resmungo há um “ser”

que não é, mas procura,

alem das lágrimas,

ser o que se propôs.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

O Galo Arley Severino (adaptado, quase um plágio)

Era uma vez um fazendeiro que tinha um galinheiro com 180 galinhas e estava procurando um bom galo para produzir ovos.
Um belo dia, o fazendeiro vai até o povoado, entra na galeria e diz para o galeiro:
- Boa tarde! Procuro um bom galo capaz de cobrir todas minhas galinhas.
- Quantas galinhas tens? - responde o galeiro.
- 180 - diz o fazendeiro.
Então o galeiro puxa uma gaiola com um galo enorme, musculoso, com a crista de pé, olhos azuis e uma tatuagem dos Rolling Stones no peito, e diz para o fazendeiro:
- Leva esse aqui, o Pedrão, ele não falha. O fazendeiro leva o galo e no dia seguinte, pela manhã, solta o galo no galinheiro.
O galo sai correndo, pega a primeira galinha, e dá duas sem tirar, pega a segunda, dá a primeira, e quando estava na segunda cai morto. O fazendeiro olha e diz:
- Aquele galeiro filho da puta, este galo comeu duas galinhas e capotou.
Então, pegou o galo pelo pescoço e levou-o até o galeiro e contou o que aconteceu. O galeiro se desculpou apresentando-lhe outro galo. Este era preto, de crista amarela, olhos negros e tênis da Nike. E diz para o fazendeiro:- Esse aqui é o Rodman. Dá uma olhada no trabalho dele depois me conta.
O fazendeiro volta pra fazenda com o galo e repete a manobra: solta o bicho no galinheiro, o galo sai alucinado, come a primeira galinha de pé, pega a segunda e traça-a encostada na cerca, com a terceira ele faz um 69 e quando esta bombando a quarta, cai morto no meio do galinheiro.
O fazendeiro, emputecido, pega o galo e vai falar com o galeiro:
- Escuta aqui, ô filho de uma puta, é o segundo galo que tu me vendes e que não presta pra nada. É melhor você me vender um galo decente ou vou tocar fogo em tudo aqui, sacou cara!!!
Então o galeiro mostra-lhe um galo miúdo, pelado, cabeçudo, sem crista nem penas, com olheiras, corcunda, com tênis Bamba de lona e uma camisa azul clara com os dizeres "Maracanã 1950" e diz ao fazendeiro: - Olha, é só o que me resta. O nome dele é Arley Severino.
- Que merda vou fazer com este galo todo fudido...
Chegando à fazenda solta o Arley Severino no galinheiro. O galo arranca a camisa e sai enlouquecido comendo todas as 180 galinhas. Da uma respirada e come as 180 de novo. Sai correndo e enraba o pastor alemão, aí o fazendeiro pega ele, dá dois sopapos para acalmá-lo e tranca-o na gaiola.
- Porra, que fenômeno é este galo!!! pensa o fazendeiro.
As galinhas estavam enlouquecidas com o Arley Severino.
- Que o Arley Severino é isto... que o Arley Severino é aquilo... é uma loucura total, todas as galinhas estavam querendo mudar-se pra Ibiá - MG (terra natal de Arley Severino).
No dia seguinte solta o bicho de novo, o Arley Severino sai levantando poeira. Dá duas voltas no galinheiro faturando tudo que é buraco com penas que encontra pelo caminho, sai correndo e come o cachorro, o porco e vacas. O fazendeiro corre atrás, pega ele pelo pescoço, dá umas chacoalhadas para acalmá-lo e joga ele na gaiola.
- Que galo sacana, vai me cobrir a fazenda inteira!!!, diz o fazendeiro todo satisfeito.No dia seguinte, vai buscar o galo e encontra a jaula toda arrebentada.
- O Arley Severino fugiu!!!
Sai correndo para o galinheiro e encontra todas as galinhas fumando e assobiando, lá fora o porco com o rabo para o sol, as duas vacas deitadas no chão com a perereca vermelha falando no Arley Severino, o cachorro com a bunda assada, e pensa:
- Ele vai comer o gado do vizinho, vão me matar!!!
Então pega o cavalo e sai procurando o Arley Severino sem descanso, seguindo as pistas deixadas por ele (cabras suspirando, bodes passando hipoglós na bunda, uma tartaruga que perdeu o casco no tranco, um touro provando lingerie, três capivaras mancando, um pônei sentado no gelo, um bambi curado de hemorróidas...) até que, de repente, à distância, vê o Arley Severino caído no chão. Uma cena aterradora!!! E os abutres voando em círculos, se babando de fome!
Quando viu os abutres sobrevoando, o fazendeiro entendeu a situação.
- Nãaaooooo, Arley Severinoooooo!!! Morreuuu o Arley Severinoooo!!!
Logo agora que tinha encontrado um galo de verdade!!!...
e no meio do lamento, cuidadosamente o Arley Severino abre um olho, olha para o fazendeiro, pisca e diz:
- Shhhhhhhhh!!! Fica quieto que eles estão quase descendo...

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Há muito tempo não escrevo nada além da minha dissertação. É o "dever de casa" que tenho feito.
Cansado, minha vida tem se resumido em leitura, pesquisa e escrita.
Antes que chegue seis horas (ou sexta-feira, porque acho que já "passei" das seis) e para não deixar o blog desatualizado vou me emprestar um poema do Quintana. Um dos meus favoritos:

O tempo
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.
Mário Quintana

domingo, 8 de março de 2009

Saudade

Parece absurdo pensar nisso, mas será que sabemos o quanto de nós é, realmente, nosso? Nosso jeito de andar, de vestir, o idioma ou idiomas pelos quais nos expressamos, nossos gostos musicais, nossos gostos estéticos, os sabores que agradam nosso paladar... o que sabemos fazer, o que não sabemos mas queremos aprender e aquilo de que nós queremos distanciamento. O quanto disso tudo é nosso e o quanto é do mundo?

Assuntos como política externa, proteção aos direitos humanos e ao meio ambiente, a preservação da baleia branca, Internet, saúde, educação, enfim, assuntos de cunho social, político, econômico ou cultural que, num primeiro momento parecem locais, próximos, se apresentam como problemas internacionais. Mas não um “internacional” alheio a mim ou a você que tirou cinco minutos para ler este blog, mas um “internacional” meu e seu, do outro... do mundo.

O quanto de nós, então, é realmente nosso? Hoje, ou melhor, neste exato momento tomo a liberdade em dizer que o que é realmente meu é o que agora me aflige. O que é realmente meu, o que é realmente seu e o que é de cada um são os assuntos ligados ao coração. Ainda que haja alguém a dizer o contrário, a dizer que até mesmo o que nos aflige é em decorrência do contato com o outro, hoje, exatamente hoje o que é realmente meu é o que tenho sentido, o que tem me deixado sem chão, alçado ... o que tem me perturbado o dia.

Sei que muito de mim é pela experiência acumulada pelo contato com outras pessoas ou com suas obras: um livro, um CD, um objeto qualquer que nos despertam sentimentos, estimulam o aprendizado e curiosidades. Mas neste exato momento o que é meu é a saudade.

Há dias em que bate a saudade de um amigo, do pai que já se foi, dos familiares que estão longe. Saudade da infância que ficou, daquela esquina e das conversas até de madrugada. Saudade do futebol noturno, dos almoços em dia de domingo com a casa cheia sem a ausência dos que importam, saudade das brincadeiras de criança, da piada em sala de aula ou daquele sorvete feito pelas mãos de mãe e que já não se encontra mais o sabor. Mas hoje a saudade que bateu, ou melhor, gritou é a saudade da pessoa amada.

Num domingo, oito de março em que ainda se discute crise econômica, se comemora o dia internacional da mulher, se debate a excomunhão de familiares de uma criança estuprada, se fala de meninas de 9, 10 e 11 anos grávidas de padrastos, do gol histórico do Ronaldo após 14 meses sem jogar, ou qualquer outra coisa que é mais ou menos interessante ao mundo estou eu sentado a pensar e sentir uma saudade que dói.

Saudade daquele sorriso que só eu sei o quanto me agrada e que tento a todo custo fazer aparecer. Saudade da pele, do cheiro, do jeito de andar. Saudade daquela voz calma num misto de veludo e aconchego. Saudade do abraço, das mãos dadas e do passeio em tardes de domingo. É saudade da presença e de tudo que ela proporciona.

É uma saudade que faz tudo desanimar, menos a esperança de ver quem se ama. É uma saudade que deixa triste, que me faz terminar aqui pelas metades este texto. Texto que foi escrito para falar que essa saudade, esse sentimento e esses pensamentos são meus, só meus, tão meus que resolvi compartilhar. Compartilhar para torná-los mais meus ainda.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A chama que nunca se apaga

Arley Haley (adaptado de Leonardo Da Vincci) - e tem
gente que não anda dando nenhuma (ô, tristeza!)

Certo dia, um padre cansado de ouvir histórias sobre uma de suas "Carolas", foi ter com ela:
- Mulher, chegam a mim histórias sobre você. Me disseram que tens fogo embaixo! Me diga, é verdade? (pergunta o padre).
Com voz chorosa e envergonhada de si a mulher responde:
- Sim, é verdade senhor Padre.
E então o padre avança ferozmente sobre a mulher, levanta sua batina e diz:
- Então, por obséquio, a senhora poderia acender essa vela? heh eh ehe he he he he he
"O homem que bebe pinga vive na embriaguês, cachorro que come ovo, mulher que dá a primeira vez, não existe doutor no mundo que tire o vicio dos três".

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Mandei vender o lugar

Ele canta e seu canto ecoa por entre barreiras de concreto
Vai, bem-te-vi, procura um verde!
Nestas paragens até seu canto é cinza.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Hoje

Hoje "é um dia daqueles": Dia de querer fazer algo produtivo. Dia de ligar para um amigo distante. Dia de brincar com o sobrinho até um dos dois dormir de cansaço. Dia de enfrentar 300 km de estrada para ver a namorada que mora longe. Dia de querer abraçar mãe e irmãos e dizer o quanto se ama e de agradecer por tudo que se viveu... juntos. Dia de rezar pela ausência que machuca...
Mas hoje é um dia daqueles.
Um dia em que, não sei porque, há uma lufada de tristeza em cada tentativa.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Eu e o tempo

Eu não quero a calmaria
Do dia não vivido,
Da fresca manhã,
Da tarde que queima,
Da decadência da noite,
Que termine na prorrogação
No linho lençol
Da (in)fatigante jornada.
Eu quero o tempo
Dono de tudo,
Dono de mim.
E que à noite,
Na imobilidade da cama,
Possa eu gozar e dormir,
Quebrar a rotina
Dela (cama) e minha (besta).

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Sem vontade nenhuma de escrever nada por hoje resolvi postar algo que eu já havia escrito há dois anos e meio para o blog de um amigo. Para ser mais exato no dia 26 de julho de 2006. Quem tiver um tempinho e se interessar em ler basta recalcular as datas. Um forte abraço em todos. Amanhã posto algo novo.

O menino e o saco de arroz

Um dos momentos mais importantes da minha vida foi quando entrei para a escola. Para ser mais exato há 16 anos e 7 meses, em algum momento perdido do ano de 1990.
É engraçado como a tristeza e a nostalgia me tomam quando lembro deste dia: o preocupar com quase nada, a proteção e o carinho daquela mãe carinhosa que ficara a me olhar pela fresta da janela sorrindo e sempre acenando quando pro seu o meu olhar desviava, como se (mas era bem isso mesmo) dissesse com a voz de ternura que sempre teve: “não te preocupes, estou aqui”.
Falar sobre minha mãe é sempre tão fácil, basta me embebedar com a mesma meiguice daquela senhora de hoje 49 anos repletos de tudo, principalmente de vida. Prometo voltar a este blog em breve para falar dela. É que hoje me deu vontade de escrever sobre um amigo que conheci naquele mesmo dia, o dia em que entrei para a escola, o dia em que me dei conta da importância de minha mãe, o dia em que descobri a amizade e as rugosidades do viver (ainda que só mais tarde pudesse ter me dado conta de tudo isso).
Jeremias era um mulatinho de sorriso difícil de se mostrar, barrigudinho e baixinho como eu. Eu o conheci neste primeiro dia de aula, mas demorou algum tempo até que ele pudesse soltar sua primeira resposta à minha insistente pergunta: – “Qual é seu nome”? “Jeremias”, disse ele. Acho que venci pelo cansaço aquele garoto que insistia em não me responder nada. Via-se um garoto que não era alegre como os outros, as mulheres (aquele tanto de mãe que ficavam esperando seus filhos saírem da escola) diziam que ele era de uma família complicada, de “mãe alcoólatra e tudo”. Demorei para entender o que era alcoólatra e até hoje não sei o que é esse “tudo” com que terminavam a qualificar a família daquele que era simplesmente um “amigo mudo” que não gostava de muita conversa.
Era impressionante a relação desse meu amigo com os sacos de arroz. Ele os utilizava pra tudo, para carregar cadernos, para levar os poucos lápis de cor (a maioria já gastos. Provavelmente ele os aproveitara de alguns de seus irmãos mais velhos) e até mesmo serviam como guarda-chuvas – os sacos. Eu via com diversão a cena de seu irmão mais velho ir buscá-lo com um saco de arroz aberto tentando protegê-los em dia de chuva enquanto pisava descalço nas poças dágua que se formavam – sim, ele não tinha sapatos, nem mesmo daquele chinelinho havaiana que naquela época, diferente de hoje, era baratinho, baratinho, o mesmo que minha mãe usava. Talvez para que eu pudesse ter meus pés aquecidos em sapatinhos de couro e meus cadernos e lápis novos protegidos por uma mochila novinha.
Pouco tempo depois, acho que um ano talvez, num desses passeios que sempre fiz com meu pai às margens de um rio perto de minha casa, encontrei Jeremias, que ainda sem palavras mas agora com um sorriso enorme no rosto, se punha a brincar numa ponte de pau (que nem mais existe senão na minha memória e de alguns poucos, fora levada por um enchente cinco anos depois) debruçando sobre o pára-peito... Quis correr até ele, fui repreendido pelo meu pai: “Vamos embora, se esse menino cair no rio ainda vão falar que fui eu quem empurrei, não quero depois tentar catar esse muleque nágua”.
Há menos de um mês, no refeitório de um hospital de uma cidade vizinha à minha, onde meu pai encontrava-se na UTI vi novamente meu amigo Jeremias, agora mais falante. Foi ele quem deu início à nossa conversa:
– Ué, o que faz aqui?
– Meu pai, está na UTI.
– Qual o nom dele?
Respondi à sua pergunta. – Não se preocupe, ele é meu paciente, estou cuidando bem dele.
Jeremias é enfermeiro dos bons, tão humano que só as desumanidades da vida poderiam tê-lo deixado assim.
- Tem um amigo seu que está cuidando muito bem de mim. É atencioso e tudo que eu peço ele faz de bom grado. Me disse meu pai em uma visita um dia depois.
- Parece que eu o conheço de algum lugar, estou tentando lembrar dele, mas não consigo...
- Melhor não meu pai, melhor não. Ás vezes não lembrar de muita coisa faz um bem danado .

À minha mãe, pelo carinho e pelos sapatinhos da vida sempre tão quentes; ao Jeremias, pelo cuidado com meu pai; ao meu pai, que me faz sentir tanta saudade desde quando resolveu romper o pacto e ir sem me avisar; ao irmão mais velho de Jeremias que, segundo amigos, também se despedira depois de mergulhar fundo no rio. Que estejam, ele e meu pai, melhor do que estamos agora.

Ao meu pai:
(...)Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto
nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.(Carlos Drummond de Andrade)